sexta-feira, 24 de abril de 2015

O dragão das 7 cabeças

Num reino africano muito distante, vivia um jovem aprendiz de feiticeiro, ansioso por deter todos os conhecimentos do mundo sobre magia. Havia nele uma sede incessante de fazer o bem e de espalhar harmonia à sua volta, mas muito medo de não estar à altura deste homérico propósito.

Durante os primeiros anos de aprendizagem o jovem esforçou-se por superar o seu mestre, aprendendo dele tudo o que foi capaz. Teve tanto êxito nesta busca pelo conhecimento, que chegou o dia em que o seu mentor lhe disse: “Foste um fiel aprendiz, e nada mais te posso ensinar. Agora, vai-te embora. Parte em busca de alguém que saiba mais do que eu. Nada te posso dar, que tu não saibas já. Mas tem cuidado…Atenta bem no que vais fazer porque tudo o que tu fizeres só tem sentido se atrair bem-estar para os outros e tiver o condão de os afastar da dor”.

O aprendiz abandonou a sua aldeia, triste e amedrontado, deixando para trás tudo e todos aqueles que lhe eram queridos. Ia à procura do feiticeiro mais poderoso do mundo, e pedia nas suas preces aos Deuses que estes estivessem dispostos a ensiná-lo sobre os mistérios do oculto que ele ainda não dominava.

Andou durante dias e dias. Sentiu-se exausto, enfrentou perigos inúmeras vezes, caiu, levantou-se. Pensou desistir, recomeçou. Foram muitas as ocasiões em que se sentiu no limite das suas forças, tamanho era o medo dos riscos que tinha para enfrentar. O pior para era saber que atrás de si caminhava como uma sombra, algo tão terrífico que ele não se atrevia sequer a respirar fundo. Pelo canto do olho, o jovem aprendiz tinha conseguido perceber as formas gigantescas do que lhe parecia ser um maléfico dragão de 7 cabeças.

Depois de muito deambular, atravessando montes e planícies, florestas e desertos, o jovem chegou finalmente à entrada de uma aldeia onde lhe tinham assegurado que vivia o feiticeiro mais poderoso e sábio de todos os reinos.

Para lá entrar, tinha apenas que transpor uns portões altos e majestosos que defendiam toda a aldeia do ataque dos inimigos.

O aprendiz preparava-se para bater no portão e pedir guarida na fortificação quando se apercebeu da sombra do temível monstro. Lembrou-se de imediato da recomendação do seu antigo mestre: “aconteça o que acontecer, o teu conhecimento só terá valor se atrair bem-estar e não trouxer a dor para perto das outras pessoas”.

Perante isto o jovem só via uma solução: entrar na aldeia apenas quando o dragão estivesse adormecido.

Aterrado, mas determinado, recomeçou a andar, desta vez à volta das muralhas da aldeia. Caminhou, caminhou, caminhou. Caminhou sempre. Dias, semanas, meses. Quando parava para descansar, conseguia sentir o bafo fétido do monstro que o perseguia. A única altura em que ele se sentia a salvo de um possível ataque, era durante o seu próprio sono.

Sete anos inteiros passaram sem que nada de novo acontecesse. O aprendiz caminhava, muitas vezes no fio das suas forças… atrás de si estava sempre o malvado dragão para o assombrar. Das amuradas da aldeia via as pessoas admiradas com as suas incessantes deambulações. Depressa começaram a ser criadas histórias sobre ele, histórias que chegaram aos ouvidos aparentemente indiferentes do grande feiticeiro.

Um dia, sem saber mais o que fazer, exausto desta aventura sem fim, o antigo aprendiz parou, rendeu-se ao objecto do seu medo e a custo, tremendo que nem varas verdes, voltou-se para trás, muito devagar e com um infinito respeito perguntou à fera, olhando-a bem dentro dos seus olhos vermelhos:

Ó temível Dragão, meu companheiro de sempre nos últimos 7 anos, afinal, o que me queres tu? Porque me persegues? O que precisas de me dizer?»

O dragão olhou directamente para os olhos do rapaz, os seus coruscantes raios vermelhos foram-se tornando cada vez menos intensos e o rapaz sustentou o seu olhar, pronto para qualquer resposta. E foi nesse momento, nesse preciso momento, que o monstro se desvaneceu como fumo levado pelo vento, uma cabeça de cada vez, deixando no seu lugar apenas as cores bonitas e luminosas de um dia de primavera.

O aprendiz soube então que poderia finalmente entrar na aldeia onde o esperava já o maior feiticeiro do mundo, satisfeito por ter encontrado alguém capaz de lhe seguir os passos e lhe suceder no trono do conhecimento e da coragem.

Sem comentários:

Enviar um comentário